segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Estranha-se e Entranha-se

Sempre que a Princesa ouve comentários de pessoas que se referem às saudades de Macau como "Saudades dos cheiros de Macau", é atingida por uma colossal onda de assombro. Porque sempre que alguém se refere aos cheiros de Macau, a primeira memória é sempre a do Durian.

Durian é uma fruta muito comum no Sudeste Asiático, com origem na Malásia e na Indonésia. É muito grande, com uma "carapaça" de espinhos muito duros e uma polpa com gomos grandes moles e amarelos. É preciso um profissional para conseguir extrair a polpa.

Aqui em Macau também é muito popular. Vende-se fresco no supermercado, desidratado, em snacks, em sumos, gelados e um sem fim de outro produtos.

Mas esta fruta tem o pior cheiro de todas as frutas do mundo! É como se juntassem carne podre, alho cru e se calhar um equipamento de ginástica usado que ficou a apurar o cheiro sem lavar por umas semanas.

É um cheiro difícil de descrever e impossível de esquecer. Entranha-se na pele e na roupa e não há ambientador ou perfume que nos valha. Os amantes desta fruta chegam a comer de luvas, tal é a dificuldade em eliminar o cheiro da pele. E há vários locais públicos onde é proibido comer a famigerada fruta.

E quando se prova (sim, a Princesa fez pelo menos uma tentativa), a reacção do corpo é imediata: Vómito! O corpo não está preparado para saborear uma coisa que cheira tão mal. São demasiados estímulos sensoriais para conseguir gerir.

O Fiel Escudeiro está proibido de comer isto, trazer isto para casa, estar perto de quem coma isto, passar sequer perto das bancas de fruta que vendem isto. O nariz de perdigueiro da Princesa identifica qualquer derivado de Durian a quilómetros!

E ao longo destes últimos anos a Princesa tem conseguido estar longe deste demónio.

Até hoje!

Depois do almoço no escritório, alguém trouxe como sobremesa uma caixa de Durian fresco. O cheiro identificou-se imediatamente.. começou por ser apenas o leve aroma, mas começou a ficar cada vez mais intenso até ser insuportável.

Se calhar por causa da minha reacção bruta e agressiva, se calhar um bocadinho louca, de ter dito bem alto "QUEM OUSA COMER DURIAN NO OPEN SPACE?!" "QUEM OUSA CONSPURCAR O AR QUE EU RESPIRO?!" os meus colegas, vulgares plebeus, sorveram rapidamente o conteúdo da caixa, recusando-se a confessar quem cometeu tal sacrilégio.

Passadas várias horas ainda se sente o cheiro putrefacto no ar.

Por via das dúvidas, afixei este cartaz no escritório:













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