quinta-feira, 30 de julho de 2015

Cálculo Mental

Neste Oriente longínquo onde a Princesa e o Fiel Escudeiro moram, a liberalização não é apenas para o jogo. Os medicamentos disponíveis no território nunca precisam receita médica, os preços variam conforme o local onde a farmácia está situada e encontramos medicamentos genéricos que vêm de todo o mundo. Os nomes a que estamos habituados e que reconhecemos, na maioria das vezes têm um substituto com outro nome, e de outra origem.

Por isso para nós o desafio é sempre a comunicação. Os farmacêuticos não reconhecem os nomes dos medicamentos e quase não falam inglês. A grande maioria das vezes é o Fiel Escudeiro que vai fazer mímica para a farmácia para se fazer entender. A Princesa não é muito boa nessa forma de expressão. Queria poder gravar as nossas figuras no nosso jogo particular de mímica: tosse, febre, garganta inflamada, picadas de insectos, a melhor de todas... diarreia, vitaminas efervescentes, água oxigenada.. e tantas outras coisas que temos de conseguir explicar por gestos.

Hoje, vítima dos ares condicionados ao rubro em todos os espaços fechados, a Princesa precisa de um anti inflamatório para a garganta e estando sem o Fiel Escudeiro para ajudar na mímica foi para a farmácia munida de uma fotografia com o nome do medicamento.

"Sou tão esperta!" era a ideia que me ia passando pela cabeça enqto esperava pela vez na farmácia! "

"Tão ingénua!" foi a ideia com que saí da farmácia, derrotada pelos chineses.

Os Chineses da farmácia pequena do nosso bairro podem não saber falar inglês, mas pelo menos são prestáveis. Estes outros que visitei hoje devem achar que são finos porque estão numa farmácia nova no centro da cidade.

Resposta imediata do Chinês: "No have!".

Tenho a certeza que ele nem teve tempo de ler o nome completo do medicamento.

Princesa insiste: "Ok, não ter. Mas dá-me um 'same same'. Um que seja igual"

Chinês sem paciência porque já usou todo o inglês que sabia: "No. No have."


Enchi-me de coragem para uma caminhada sob um calor abrasador para ir a outra farmácia, onde DE CERTEZA tinham o que eu queria.

Chegando lá o procedimento é o mesmo. Saco do telemóvel para mostrar a fotografia do que eu quero. Desta vez a miúda da farmácia demorou o tempo suficiente a olhar para a foto para perceber o que eu queria.

Começa a abanar as mãos a dizer "No, No, No have".

"Mas é que nem penses que te livras de mim com essa facilidade", era a única coisa que me passava pela cabeça.

"Ok. Então faz favor de ligar para as outras farmácias do grupo (que são muitas) e diz-me onde há o medicamento e eu vou lá buscar!"

A rapariga ficou incrédula com o meu pedido. Mas acabou por dizer.. qualquer coisa que se entendesse: "Eu tenho o medicamento, mas não nessa dosagem"

Na minha foto diz "Tomar 2 comprimidos de 5mg de cada vez" e ela só tinha comprimidos de 10mg.

A Princesa não é lá muito bom em cálculo mental. Mas se a toma são 5mg+5mg, quer dizer que são 10mg. E se ela tem um comprimido de 10mg, PORQUE RAIO ME DIZ QUE NÃO HÁ?!








segunda-feira, 20 de julho de 2015

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Os Lamas

É Quarta-feira, final de mais um dia de trabalho. Hoje a temperatura amainou para os 32º graus e apesar da humidade, com o vento que se faz sentir já só parecem estar 43º na rua.

A Princesa espera pelo 7A na paragem de autocarro e repara num chinês que se destaca dos restantes. Onde está o saco de plástico com os legumes volumosos a bater nos transeuntes? Onde está o saquinho do peixe a pingar? Onde está a camisa de alças arregaçada que deixa a barriga de fora? Onde estão as Crocks?

O jeitoso era chinês e mais velho,  apresentava-se de camisa, com um fato azul escuro com um corte muito elegante. Sapatinho fechado, bem penteado. Um aragem traz até mim o cheirinho de água de colónia. Ok, não era Acqua di Gio e o modelo não era lindo, mas pelo menos não tinha "cheiro a gente".

A Princesa sentiu-se melhor. "Não sou a única trabalhadora bem vestida do burgo. E as velhas do autocarro vão ter outra pessoa com quem dividir as atenções e vão olhar especadas para outro alvo."

Nisto, o senhor aproxima-se do caixote do lixo da rua, debruça-se para a pequena abertura lateral, faz um ruído muito (demasiado) familiar, como quem quer expulsar uma parte do cérebro que acidentalmente se alojou nas fossas nasais,  e cospe ruidosamente para dentro do pobre caixote.

Quem me manda ter ilusões de sofisticação e requinte? This is Macau!