domingo, 6 de janeiro de 2013

Agulha num palheiro

As últimas semanas aqui em Macau têm sido palco de um acontecimento estranho. A princesa e o seu fiel escudeiro aproveitam todo o tempo livre que têm para caminhar.. andar, andar.. até esgotar a força nas pernas. Seria de esperar que fosse porque ambos precisamos tonificar músculos, mas não! As caminhadas têm como objectivo encontrar novo castelo.

Entramos em todas as agências imobiliárias, vemos todas as casas que nos propõem, exercitamos a nossa mímica para nos conseguir fazer entender com os chineses.. e até agora nada, rien, nicles!

O mercado imobiliário em Macau não deixa de me surpreender. A grande maioria das casas são de péssima qualidade, em prédios com mais de 40 anos, pequenas, húmidas  sem luz natural, sem vista.. Um sem fim de defeitos. E no entanto são caras. Muito caras.

Engane-se quem achava que Nova Iorque era o local onde o metro quadrado era mais caro. Como são apenas 30km quadrados e a densidade populacional é muito elevada, a procura é muito elevada. Os preços acompanham essa subida.

Qualquer casa que podemos considerar decente custa mais de 7.000 patacas por mês. Se for um bocadinho mais que decente já vão ser mais de 10.000 patacas. Pensando que com esse dinheiro em Portugal quase conseguíamos alugar um apartamento luxuoso, andamos sempre revoltados.

Já vimos casas no quinto andar sem elevador, tão pequenas que nem uma cama de casal cabia no quarto, tão próximas do vizinho que podia tirar roupa do estendal dele, tão escuras da humidade, com casa de banho e cozinha "dois em um", sem cozinha, com bancadas de cozinha que me davam pelo joelho, com camas dentro de armários, um sem fim de pérolas que nos vão ficar na memória.

Mesmo assim, e baixando os nossos critérios, já tínhamos encontrado algumas casas que queríamos para nós. Num dos casos, combinamos com a agência, inclusive com o dono da casa e à ultima hora recebemos um telefonema a dizer que afinal outra agência tinha conseguido negócio antes de nós. Noutro caso houve alguém que ofereceu mais dinheiro pela casa. Ambos pareciam ser um negócio fechado. Ambos resultaram num desgosto.

Macau deve ser o único local no mundo onde são os clientes que andam atrás das pessoas das agências imobiliárias e onde estas agências não fazem o mínimo esforço por fazer negócio. Quando digo "mínimo", na verdade deveria estar a dizer "absolutamente nenhum".

Além disso, a especulação imobiliária não tem nenhum controlo e os donos das casa fazem aumentos do valor das rendas ao final de um ano, algumas vezes superiores a 100%. E mais impressionante é o facto de isso ser ilegal. A lei prevê o aumento da renda no valor de 10% apenas ao final de dois anos. Mas os donos e as agência parecem não querer saber.

Numa das negociações que tivemos (e são recorrentes), dissemos ao dono da casa que o aumento de 10% ao final de um ano era ilegal e por isso não podíamos assinar o contrato. Resposta dele: "Eu sei que é ilegal, mas aqui é Macau". This is Macau parece servir de justificação para tudo.

Mas não nos damos por vencidos. Amanhã vamos novamente fazer uma incursão pelas ruas de Macau. Havemos de conseguir... encontrar uma agulha no palheiro.





Sem comentários:

Enviar um comentário